Quando Paulo escreve em 1 Coríntios 2:6–10, ele não está falando de uma sabedoria que a gente adquire só com erudição, leitura ou filosofia — embora tudo isso tenha seu lugar. Ele fala da “sabedoria de Deus, em mistério”, revelada “pelo Espírito”, porque “o Espírito sonda todas as coisas, até as profundezas de Deus”. E é aqui que eu e você precisamos pousar hoje: não é o quanto eu “peço um balde do Espírito” para cair sobre mim, é o quanto eu entro no rio (Ez 47). Não é o rio que pula em mim; sou eu que avanço no rio. Quanto mais eu cedo espaço, mais o Espírito tem de mim.
Eu sei que muitos veem o Espírito como poder — e Ele nos dá poder (At 1:8) —, mas o Espírito Santo é uma Pessoa. Ele tem vontade, sentimentos, inteligência. Por isso a Bíblia diz: “Não entristeçais o Espírito Santo” (Ef 4:30) e “Não apagueis o Espírito” (1Ts 5:19). Quando eu O reduzo a uma energia, eu tento controlá-Lo; mas ninguém controla Deus. A diferença prática disso? Se eu trato o Espírito como Pessoa, eu O consulto, obedeço, alinho minha vida à Sua direção.
A vida é a soma das vozes que você escuta. Se alguém tem seus ouvidos, tem sua vida. Nós nos alimentamos o tempo todo pelos sentidos — mas “nem só de pão” (de estímulos sensoriais) a gente vive. Precisamos cultivar a quietude que ouve (Is 30:15). No meio do ativismo, barulho e pressa, o Espírito fala com clareza quando eu fecho a porta, calo a alma e digo: “Senhor, fala, eu quero Te ouvir”.
E como eu treino esse ouvido interior?
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Palavra habitando ricamente: “Habite ricamente em vós a Palavra de Cristo” (Cl 3:16). Não é conselho; é ordem. Palavra abundante = discernimento afiado.
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Disciplina de leitura: “Até que eu vá, aplica-te à leitura, à exortação e ao ensino” (1Tm 4:13). Hábito forma fome espiritual.
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Obediência prática: Deus já revelou direções gerais (jugo desigual, caráter, serviço). O Espírito confirma passos concretos no hoje.
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Quietude e confiança: “No arrependimento e no descanso está a vossa salvação; na quietude e na confiança, a vossa força” (Is 30:15).
Quando o Espírito guia, Ele considera passado, presente e futuro — porque Ele é Deus. Então, por que ignorar acesso tão divino? Ele sabia que em Sarepta havia uma viúva com “um restinho de farinha e azeite” e, ainda assim, a Palavra foi: “Eu já ordenei” (1Rs 17). No céu já estava decidido; na terra, a obediência materializa. Por isso, fé nem sempre “faz sentido” aos sentidos: marchar em Jericó, repartir cinco pães e dois peixes, sair do barco e andar sobre as águas — tudo isso contraria a lógica, mas responde a uma palavra.
Também há decisões de aliança que moldam destino: casamento, sociedade, amizades espirituais. Beleza, carisma e carteira não são o crivo do homem de Deus. O crivo é propósito. O Espírito dá esse discernimento interior: às vezes você pisa num lugar e “soa um alarme”: “não é aqui”. Hebreus chama isso de sentidos espirituais exercitados (Hb 5:14). Exercitar é ir mais fundo: tornozelo, joelho, lombos… até nadar (Ez 47).
E quando a dúvida vier — “qual é o meu propósito?” —, lembre: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação” (Tg 1:17). Peça ao Espírito direção diária: “Qual é o pão de hoje? Qual o passo de hoje?”. Não viva 20 anos preso a uma palavra que já caducou, nem se deixe manipular por aplausos ou expectativas alheias. Que a Palavra encha você como uma esponja: se alguém apertar, o que vaza é Cristo.
O Espírito sonda as profundezas de Deus e revela o que já está preparado: “nem olhos viram, nem ouvidos ouviram… o que Deus tem preparado para os que O amam” — e “a nós Deus o revelou pelo Espírito” (1Co 2:9–10). Então, vamos? Hoje eu escolho mergulhar. Eu me lanço sem medo de afogar — porque é no rio dEle que a vida flui e a sabedoria desce do alto. Amém.